O trauma tem o potencial de afetar nosso sentimento básico de estabilidade, segurança, confiança em nós mesmos, nos demais e na vida em geral. As pessoas traumatizadas desenvolvem crenças negativas e percebem seu horizonte estreitar-se com a limitação de escolhas. Repercute no funcionamento cerebral, nas interações, na autoestima, padrões de apego, aprendizagens e estruturação da personalidade de forma geral.
A trajetória da humanidade está permeada de eventos potencialmente traumáticos como guerras, massacres, escravidão, abusos e injustiças de toda ordem. Muitas vezes as pessoas se adaptam e superam adversidades, mas as experiências traumáticas e suas conseqüências deixam marcas na sociedade. A natureza traumática de uma experiência é também determinada pelos significados que a pessoa dá ao evento, e a atribuição de significados, por sua vez, está relacionada com valores socioculturais. Traumas estão na base de muita psicopatologia.
O Estudo ACE: Experiências Adversas de Infância envolveu 17.000 pessoas e foi feito de 1995 a 1997, com acompanhamento dos participantes nos 15 anos seguintes. A adversidade é a exposição a um conjunto de circunstâncias desfavoráveis ao desenvolvimento humano, envolvendo abuso e negligência, com sofrimento acima do tolerável pela criança.
A pesquisa aponta ligação direta entre adversidades que as pessoas vivem na infância até os 18 anos de idade, com patologias na idade adulta. Essas experiências afetam neurobiologicamente o cérebro das crianças, levando a condutas de risco. E são muitas as crianças que vivem freqüentemente situações de luta, fuga ou congelamento.